sexta-feira, 24 de maio de 2013

Angela Rosa, 49 anos. Sozinha. Há muito tempo estava sozinha.

Angela era nutricionista e trabalhava como pesquisadora em uma Universidade.

Inteligente, simpática, sempre tinha uma palavra de conforto para os amigos... a palavra certa. No seu local de trabalho, a maioria dos colegas adorava quando podia almoçar com ela. Invariavelmente o assunto era: 'um namorado, An, você precisa encontrar um homem pra sua vida, o homem de sua vida.'

E ela sempre sorria e dizia que esperava sim em algum momento encontrar um grande amor. Iria encontrá-lo nem que tivesse de girar o mundo todo... e ria...

E eu estava sempre por perto... ouvia as conversas e sabia do que se passava no coração dela. Várias vezes ensaiei de surgir para ela: um vizinho no edifício onde ela morava... o advogado amigo da família.... o professor de Avaliação Nutriocional, o de Nutrição e Metabolismo, o Coordenador do Curso de Química...

Mas eram apenas ensaios. Alguns olhares, alguns jantares, cinema, teatro... e não passava disso. Eu não conseguia penetrar no coração dela de forma nenhuma.

Angela era frequentadora assídua de Congressos... também por lá andei ao redor dela captando com meu radar vibrações que combinassem com as delas.

Você pode estar se perguntando como sei quando acertar... não sei dar uma resposta certa, objetiva e totalmente verdadeira do que acontece comigo... simplesmente, não consigo... O que posso dizer pra você é que há algo de que eu não saberia falar, não saberia caracterizar, não saberia explicar o que é... mas que eu sei que me impulsiona na direção de duas almas em um determinado  momento, e essas duas almas são como dizem muito humanos 'almas gêmeas'.

Posso tentar divagar no assunto: esse algo 'criou', 'decidiu', 'planejou' que alma completa a alma de quem. E no momento certo, sinto com uma brisa suave empurrando-me pelo caminho e tchan... tchan... tchan,,, tchan.. mais um amor nasce. Duas almas se encontram e silenciam. É o peão, o bispo, o rei, a rainha... tudo no lugar certo no jogo de xadrez.

Congresso em Roma - Farmacologia aplicada à Nutrição - ... inverno de 2017. Bem pertinho do aniversário de Angela.

Normalmente não peço pra essa 'força' empurrar duas pessoas quaisquer... recebo ordens e cumpro-as sem questionar. Mas com Angela eu já estava ficando aflito. E pedi: que seja agora.

Giovanni, 37 anos. Sozinho há dez meses. Sua esposa trocara-o por um aluno. Giovanni e Paola eram professores de uma Universidade de Roma; Giovanni dava aulas de Biotécnica em Saúde e Nutrição.

O Congresso: imagine quanta gente junta, gente cujo foco era o conhecimento... adquirir mais e mais conhecimentos. Nesse tipo de Congressos normalmente tenho pouco trabalho - a maioria dos participantes já recebeu minas visitas em outros cantos  quaisquer do mundo.

Giovanni, alto,  moreno, totalmente latino, sangue latino. Tinha uma filha - 14 anos - do casamente: Anna - que havia ficado; decidira não partir com a mãe e seu aluno adolescnte (nada contra idades diferentes; inclusive não entendo quem tem tanto preconceito de idade...).

Giovanni acordou cedo como de costume naquela quarta-feira,correu os seus cinco quilômetros diários na deserta Roma matinal, uma ducha, um café italiano perfetto! Deixou Anna na escola e foi para o local do Congresso.

A primeira manhã foi tranquila: assistiu alguns cursos que interessavam, conversou com colegas que há tempo não via. O almoço foi com a filha num restaurante simpaticozinho perto da escola de Anna.

Às 14:30, voltou ao Congresso. Estacionou o carro e dirigiu-se ao Auditório A3... a palestra seria proferida por um renomado professor americano. Albert Collins (algo mais ou menos assim); o assunto: Teoria Nutriocinal. Angela Rosa estava lá, na quinta fileira.

A primeira coisa que chamou a atenção de Giovanni foram os cabelos com cachos curtinhos meio indefindos e com uma cor de âmbar - também meio indefinida - de Angela. Seguiu resoluto para a quinta fileira, pediu licença e sentou.


Algumas poucas palavras sobre o Congresso foram trocadas... apresentaram-se e os olhos completaram tudo o que não foi dito diretamente pelas palavras.

'Uma doce e linda brasileira.... e não é que ela parla italiano!'... surpreendeu-se feliz Giovanni.

E, sim,... entrei no coração, no corpo, na vida dos dois... com-ple-ta-men-te.

Saí do Congresso com a sensação de trabalho cumprido... fui descansar às margens do Tibre... um descanso que durou bem pouquinho tempo, é claro .... mas essa é outra história.

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